quarta-feira, 30 de setembro de 2009

APONTAMENTOS SOBRE A CRISE FINANCEIRA

Tema recorrente nos periódicos diários em todos os países do Globo, a crise mundial que se abate sobre o capital financeiro gera inúmeras ilações, muitas negativas, poucas positivas.



Nesse prisma, alguns elementos são essenciais para que restem clarividentes as origens e consequências provenientes desse stress financeiro, especialmente quando inserida a realidade da economia brasileira.



A crise é proveniente do excesso de circulação de moedas a nível mundial, ou como diz Paul Krugmann premio Nobel de economia 2008 “é a vingança do excedente”. Assim, o grande número de moedas circulando na economia, sem lastro na produção real, é que leva à crise.



Mas é preciso frisar que o capital financeiro precisa desse excedente para sua sobrevivência e multiplicação, pois, se a regulação for demasiadamente acentuada trava o desenvolvimento e, consequentemente, o crescimento será pífio.



Nos momentos de instabilidade a regulação do capital financeiro é muito acentuada, contudo, com o passar do tempo, as necessidades aparecem, as pressões vão surgindo e o próprio capital acha outra forma de se colocar na economia mundial, como foi o caso do sub-prime.



Segundo Paul Krugmann, não é o caso de fulanizar ou personalizar a crise. Ela acontece pela necessidade do capital constantemente tentar tangenciar uma saída para o seu excedente em circulação, encontrada na facilidade das crises da Ásia, México, Rússia e, por último, no mercado imobiliário do EUA, o sub-prime.



Auxilia ao melhor entendimento da questão uma breve análise da última grande crise sofrida, mais delimitadamente em relação ao Brasil. A década de vinte, do Século XX, foi historicamente importante, uma vez que situa a economia brasileira em um período de grande pujança, contudo permeada por duas revoltas e uma revolução.



Com certeza a crise mundial de 1929, por ter atingido profundamente a parcela exportadora da economia nacional, representada sobretudo pelo café, tenha nos proporcionado o desencadeamento da única revolução de fato existente no país até os dias atuais: a revolução de 1930. Considera-se revolução porque muda o modelo econômico do Brasil de agrário liberal exportador para o modelo econômico protecionista de substituição das importações.



A partir dos anos 1929-1930 todos os paises do mundo adquiriram caráter mais protecionista, criando mecanismos de regulação mais acentuados à circulação do capital financeiro. O Brasil, neste contexto, não destoou, tanto é que a máxima da revolução de 1930 era: “tudo o que se puder produzir internamente, não deverá ser importado”.



É provável que referida proteção, resultado novo modelo econômico implantado no Brasil, tenha sido o precursor do fortalecimento da nossa indústria. Este modelo se perpetuou na nossa economia até a década de 80, havendo no percurso algumas modificações aqui e acolá, mas sempre preservando o essencial, a proteção da nossa industrialização.



A volta ao modelo liberal, caracterizada pela corrente neoliberal, se deu com a eleição do presidente Collor de Mello, no início da década de 1990, onde, a partir de então, volta-se a professar novamente o modelo econômico liberal ou novo liberal, com as privatizações, reforma no sistema financeiro nacional, principalmente no sistema bancário.



Para estabilização da nossa economia foram necessários a queima de 250 bilhões de dólares, arrecadados com as privatizações, fazendo com isso a equiparação cambial, relativizando os preços internos com os externos, resultando em inflação á níveis aceitáveis. O Brasil soube, durante os períodos de pequenas crises anteriores, arrumar a casa e superar dificuldades, com alicerce na melhor produtividade, o que nos proporcionou maior competitividade em âmbito internacional.



Em 2003, já com a economia mundial crescendo a extraordinários “quatro a seis por cento”, aproveitou-se a oportunidade para triplicar as exportações, saindo de uma média de 60 bilhões de dólares ano para praticamente 200 bilhões de dólares. Neste cenário, foi possível a extinção da centenária dívida externa brasileira, criando uma condição de credibilidade que permitiu uma queda do risco país de 2000 pontos para uma média de 200 pontos.



O acúmulo de reservas em moedas estrangeiras, de 200 bilhões de dólares, nos permitiu complementar o que faltou de crédito para a iniciativa privada, possibilitando lidar com a crise de forma mais suave, sofrendo menos os seus efeitos. No momento, o Brasil se encontra em situação privilegiada, já que conta com importantes bancos estatais - Banco do Brasil, Caixa econômica e o banco de investimento BNDES - acostumados ao mercado, podendo intervir diretamente na economia para estimulá-la.



As soluções para a crise financeira internacional são de certa maneira parecidas. Há praticamente um consenso de todos os paises no que tange ás intervenções que devem ser realizadas pelos bancos centrais e governos, ou seja, a regulação mais aguda do mercado financeiro internacional, em alguns casos com a estatização.



Portanto, o resultado dos vinte anos de globalização, ou excesso de liberação, é positivo. O crescimento do PIB mundial, por alguns anos consecutivos, deixou um saldo, ainda que a salvação de parte das riquezas produzidas até agora serão pagas pelos governos de todo mundo, os quais estão assumindo os exageros.







Dados anexos:



Resultados:

- Os 600 milhões de chineses saíram da pobreza absoluta;

- Os 300 milhões de indianos saíram da pobreza absoluta;

- Os 60 milhões de brasileiros saíram da pobreza absoluta.



Parâmetros da economia Brasileira:



- Economia relativamente fechada;

- 14% do PIB dependem das exportações;

- 86% dependem da economia interna;

- Exportações caíram as importações também;

- Alguns países dependem 100% do PIB das exportações (malásia, Singapura);

- Bancos públicos saneados habituados a concorrer no mercado capaz de compensar os financiamentos privados;

- Pessoas e empresas pouco endividadas relativamente a outros países;

- Reserva moeda estrangeira: 200 bilhões de dólares;

- Balanço de pagto déficit de 2% do PIB;

- Dívida externa praticamente inexistente;

- Dívida interna de um trilhão e 300 bilhões 36% do PIB, com melhoras no seu perfil;

- Produção de grãos de 70 milhões toneladas nos anos 90, para uma média de 130 milhões atualmente;

- Investimentos diretos estrangeiros (ide) praticamente compensa o déficit no balanço de pagtos.









- Política de consumo:

- Bolsa família;

- Crédito consignado;

- Crédito do pequeno agricultor - PRONAF saiu de 03 (três) para 15 (quinze) bilhões de reais;

- Agronegócio mais 3 bilhões de reais.







João Benjamim dos Santos - Economista

Profº Economia Brasileira Contemporânea

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